terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

COMPÊNDIO GEOGRÁFICO DE PORTO VELHO

Parte II - POPULAÇÃO

2.1. OS PRIMEIROS HABITANTES
Os povos indígenas Muras, Karipunas, entre outros, verdadeiros donos dessas terras, obviamente já existiam e habitavam as terras que hoje compreendem o atual município de Porto Velho antes da vinda dos colonizadores. A população indígena era constituída por milhares de índios que viviam espalhados pela vasta região de maneira harmoniosa com os sistemas naturais. Porto Velho ainda abriga uma pequena quantidade de índios em comparação com as demais capitais da região norte brasileira, em decorrência do incessante processo de destruição sócio-cultural a que estiveram e estão submetidos, ao longo de todas as etapas de ocupação de seus territórios. Os primeiros contatos do homem branco "civilizado" com os índios locais foram mantidos através dos padres jesuítas, dos bandeirantes e dos operários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
A partir do contato entre os índios de Porto Velho e estrangeiros, iniciou-se um progressivo processo de aculturação, ou seja, de negativas mudanças dos hábitos culturais dos indígenas, influenciados pela relação estabelecida com aquelas pessoas estranhas aos seus meios de convivência social. O processo de colonização foi extremamente cruel com as populações indígenas do Brasil e de Porto Velho, visto que os índios locais foram perseguidos e, paulatinamente, dizimados pelos algozes colonizadores. Neste sentido, há registros de que ao longo construção da EFMM ocorreram vários confrontos bélicos entre índios guerreiros Karipunas e homens armados contratados para dar segurança aos trabalhadores da empresa construtora.
Os índios usavam de muita astúcia para furtar variados objetos dos operários, fazer emboscadas manuseando habilmente seus arcos e suas flechas. Já os trabalhadores procuravam revidar aos ataques com violência, matando índios com armas de fogo (revólveres, rifles) e até mesmo com descargas elétricas provenientes dos trilhos que recebiam os fios da rede de energia, na dolosa tentativa de sobrevivência. Em conseqüência desse atrito, os índigenas Karipunas foram submetidos a um completo processo de extermínio físico e cultural a partir do contato com os trabalhadores estrangeiros (alienígenas) contratados para a construção da E.F.M.M, os quais na verdade eram vistos pelos índios como invasores. Atualmente, os Karipunas constituem uma ínfima quantidade de índios aculturados vivendo no município de Porto Velho.
Inadvertidamente, muitas pessoas estigmatizam os índios como animais selvagens, preguiçosos e covardes. Pura imprudência, pois os índios são pessoas que vivem livremente nas florestas, segundo as suas próprias crenças e costumes, seus sistemas produtivos, enfim, suas próprias culturas que os orientam.
De modo geral, os indígenas locais sofreram todos os tipos de perseguições, humilhações, aculturações e, no momento atual, têm que permanecer enclausurados em espaços cada vez mais reduzidos, demarcados pelo governo e suscetíveis às invasões. As terras demarcadas pela FUNAI são constantemente invadidas por missionários, garimpeiros, pecuaristas, rodovias, madeireiros, etc.

2.2. A POPULAÇÃO BRANCA
Quanto a presença da população branca na composição demográfica podemos afirmar que a população de Porto Velho foi historicamente formada por povos de várias etnias. Neste contexto, podemos dividir dois grandes grupos: endógeno, composto por aventureiros brasileiros que vieram sobreviver nessa plaga; exógeno, formado por trabalhadores de várias nacionalidades que vieram construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré.
Sem dúvida, o livre acesso ao rio Madeira ocorreu a partir do dia 15 de janeiro de 1873, através do decreto Lei n° 5.024, assinado pelo imperador Dom Pedro II, liberando a navegação internacional a montante deste rio e contribuiu para a vinda de muitas pessoas, em sua grande maioria trabalhadores, ao lugar inicial da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré.

2.3. A PRESENÇA DO NEGRO
O importante contingente da população negra porto-velhense é oriundo dos afro-americanos. Esses negros chegaram em Porto Velho a partir da primeira década do século XX para trabalhar na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Ao contrário dos escravos, os negros livres antilhanos para cá imigraram em busca de melhores condições de vida e salários. Vieram grupos de negros de países como Barbados e Gramados, localizados na América Central, particularmente, nas Pequenas Antilhas.
As mulheres trabalhavam na lavanderia, nas casas dos administradores ingleses e/ou americanos, entre outros locais. Já a grande maioria dos homens antilhanos, trabalhavam nos serviços mais pesados da construção ferroviária propriamente dita.
Devido as insalubres condições ambientais, os trabalhadores negros passaram por algumas dificuldades de adaptação, sendo que muitos foram vitimados pelas doenças tropicais, principalmente, a malária.
Na nascente cidade de Porto Velho, o maior bairro ferroviário era chamado Alto do Bode ou "Barbadoes Town" (cidade de Barbados), onde moravam os barbadianos com suas respectivas famílias. Atualmente, vivem em Porto Velho alguns daqueles trabalhadores das Antilhas que para cá vieram, muitos filhos e netos pertencentes às famílias Shocknnes, Winter, King, Johnson, Mackdonald, entre outras, descendentes desses valorosos negros que trabalharam na via ferroviária Madeira-Mamoré.
Em Porto Velho podemos encontrar alguns descendentes de negros antilhanos que migraram com seus pais ou mesmo nasceram aqui, como por exemplo, os dois heróis antilhanos que enfrentaram as hostilidades do ambiente selvagem, trabalhando na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e deixaram um legado de trabalho e amor por esta cidade.

2.4. A POPULAÇÃO ATUAL
Atualmente, a população local também é composta por migrantes oriundos de vários estados brasileiros. Desta forma, Porto Velho é por essência um município brasileiríssimo, ou seja, um local que recebe pessoas de todas as regiões do país. Aqui temos a presença de migrantes paranaenses, gaúchos, catarinenses, paulistas, cariocas, capixabas, mineiros, cearenses, maranhenses, baianos, potiguares, pernambucanos, goianos, mato-grossenses, amazonenses, paraenses, acreanos, entre outros. São pessoas que vieram trabalhar, fixaram residência e constituíram famílias aqui.
Realmente, temos uma população diferenciada quanto a procedência de outros estados brasileiros. Esta diferenciação demográfica pode ser percebida quando observamos os traços culturais da população aqui residente. Neste aspecto, os costumes da população migrante chamam a atenção, principalmente, em relação a culinária: gaúchos saboreiam suculentos churrascos, bebem chimarrão; enquanto nordestinos apreciam buchada de bode e outros pratos tradicionais. De modo geral, no campo musical os migrantes sulistas aqui radicados preferem músicas sertanejas; já os migrantes nordestinos gostam de forró.
E a população local?
As pessoas nascidas em Porto Velho ficam no meio termo, isto é, em função do contato com pessoas de outras regiões do país, muitas passam a gostar de diferentes hábitos culturais trazidos pelos migrantes, nas mais diferentes áreas da cultura não-material.
Quanto a composição étnica, “a cor da pele”, podemos dizer que predominantemente a população residente em Porto Velho é de cor "morena", com características amazônicas visíveis. Neste contexto, vale salientar que o termo "cor" não substitui a raça, o grau da negritude da população e/ou mesmo da descendência indígena. Na realidade, a população local é multifacetada tanto na composição étnica quanto na questão cultural.
O município de Porto Velho possui a maior população absoluta de Rondônia do estado de Rondônia (371.791 habitantes segundo a contagem do IBGE no ano de 2007), resultado da migração intensiva verificada nas duas últimas décadas do século XX, e também do crescimento natural ou vegetativo da população.

Um comentário:

  1. Caro Flavio,

    Muito interessante o seu Blog. Sou professora de historia Social, na University of the West Indies, BARBADOS. temos um projeto de pesquisa sobre a imigracao de barbadenses para Rondonia. Voce tem alguma foto do bairro "Barbadoes Town"? Alguma foto deste estilo caribenho de casa de madeira, que aqui chamam Chattle House? Qualquer material que voce tiver sobre o assunto nos interessa muito.
    Obrigada!
    Elaine P. Rocha

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